“USP despenca no principal ranking universitário da atualidade
A USP perdeu pelo menos 68 casas no ranking universitário THE (Times Higher Education), a principal listagem de universidades da atualidade.
A universidade -única do Brasil que figurava entre as 200 melhores do mundo- passou de 158º lugar em 2012 para o grupo de 226º a 250º lugar (...)
O editor do THE, Phil Baty, classificou o resultado como ‘negativo para o Brasil’ (...)
Baty destacou ainda a importância da internacionalização nas universidades brasileiras para melhorar os resultados.
‘É preciso incentivar o uso do inglês na sala de aula. Muitos países que não são de língua inglesa já usam o inglês no meio acadêmico.’ Entre eles, estão a Holanda, a Alemanha e a França -países com universidades entre as cem melhores do mundo.
Essa bandeira do inglês tem sido destacada também por especialistas brasileiros (...)
Sem ter aulas em inglês, o Brasil perde pontos em boa parte dos indicadores do THE, que avaliam, por exemplo, a quantidade de alunos e de professores estrangeiros.
Além disso, as publicações científicas exclusivamente em português também diminuem a quantidade de citações recebidas por outros cientistas (...)
O Brasil foi o único país que saiu do grupo de países com universidades entre as 200 melhores do mundo. Noruega, Espanha e Turquia entraram para o grupo de elite”.
A língua portuguesa é o idioma oficial do Brasil. Está lá no artigo 13 da Constituição Federal.
Definir na constituição um idioma oficial não é um ato exclusivo brasileiro. O terceiro artigo da Constituição Espanhola e o segundo da Constituição Francesa dizem o mesmo em relação ao espanhol e francês, respectivamente, por exemplo.
O mesmo ocorre nas organizações internacionais. Mas como elas são quase sempre formadas por países com línguas diferentes, elas precisam decidir que língua ou línguas usarão como oficiais. A ONU, por exemplo, tem seis idiomas oficiais: inglês, francês, russo, chinês, árabe e espanhol. O mesmo para o Tribunal Penal Internacional. Na OMC, as línguas oficiais são inglês, francês e espanhol. Já a União Europeia tem nada menos do que 24 línguas oficiais!
Em um país, o idioma oficial é, em teoria, essencial para sabermos em qual língua o governo comunicará internamente e com o resto da sociedade. Em um país como a Índia, onde há mais de três mil línguas, a definição do hindi e do inglês como línguas oficiais foi essencial, por exemplo.
Mas realmente é importante termos uma língua oficial? Os EUA, por exemplo, não têm uma língua oficial e nem só por isso deixaram de ser a maior potência do mundo.
Língua é, para muitos países, parte da cultura. Para eles, determinar uma língua oficial nada mais é do que tentar proteger tal cultura. É uma forma de separar ‘nós’ e ‘os outros’ (mesmo se você nunca saiu do país, se você já ouviu um grupo de skatistas, médicos ou advogados conversando, certamente já viu como a língua pode ser usada como instrumento de segregação entre os que a conhecem e os que a não conhecem).
Mas uma língua oficial só protege a cultura se as pessoas que moram naquele país realmente falam aquela língua. A lei não consegue moldar as pessoas se as pessoas não quiserem ser moldadas por ela. Às vezes (e isso ocorre com frequência em territórios invadidos por uma nação estrangeira), as pessoas do território invadido deliberadamente falam um outro dialeto ou língua justamente como mecanismo de resistência. É o que acontece, por exemplo, com o tibetano.
Outras vezes, a cultura de uma parte do território é tão forte que ela precisa ser incorporada à língua oficial. É o caso que acontece com o basco, o galego e o catalão na Espanha, por exemplo. A tal ponto que o mesmo artigo da Constituição Espanhola citado acima determina que as línguas regionais da Espanha são consideradas oficiais em suas respectivas províncias e que essa diversidade linguística faz parte do patrimônio cultural do país e, como tal, deve ser protegida.
Língua oficial só é útil se as pessoas a usam (falam e entendem). No caso da ONU, por exemplo, como é praticamente impossível conseguir um grupo de trabalhadores que fale as seis línguas oficiais, apenas o inglês e francês são usados como línguas de trabalho do Secretariado, que é o órgão que gerencia a organização no dia a dia. E o mesmo ocorre com a União Europeia: como ninguém falará e entenderá as 24 línguas oficiais, inglês, francês e alemão são as línguas de trabalho do comissariado.
E aqui aparece uma lição importante: o fato de haver uma ou mais línguas oficiais não impede que tenhamos outras línguas de trabalho se isso faz sentido. Em Israel, as línguas oficiais são o hebreu e o árabe, mas o inglês é usado extensivamente como língua de trabalho e social. O mesmo ocorre em países como Alemanha, Suécia e Áustria.
Em outras palavras, se faz sentido, por que não usar uma outra língua?
No mundo acadêmico, que gira em torno da disseminação e receptação de conhecimento, faz sentido usar o inglês, que é a língua na qual a maior parte dos trabalhos estrangeiros são publicados ou traduzidos.
Mas, para isso, precisamos falar a língua. Sermos capazes não só de entendermos, mas de falar e escrever fluentemente. E, para isso, é essencial não só o ensino formal, mas a prática cotidiana. De fato falar e escrever.
Se as pessoas apenas entendem o inglês, mas não conseguem se expressar confortavelmente naquela língua, elas podem até captar conhecimento, mas sua produção intelectual ficará restrita. É como se fossem mudos, mas não surdos: ouvem o que os outros falam, mas só se comunicam com aqueles que entendem a linguagem de sinais, que é um universo muito mais restrito. E, como não falam, não podem ensinar outros a falarem.
Se professores não falam (ou escrevem) inglês de forma natural, não podem ajudar seus alunos a praticarem, e isso vira um ciclo vicioso.
A longo prazo, isso gera consequências financeiras e estratéficas para o país como um todo, já que não só o mundo acadêmico gira em torno do inglês, mas também o comercial e o diplomático.